09/12/2018

B-17 - uma parte da história "estacionado" em Recife

Não sou grande conhecedor de aeronaves mas tenho muita curiosidade nos modelos que fizeram parte da história,  em especial, os modelos que "lutaram" na Segunda Guerra Mundial como este exemplar do B-17. Este modelo quadrimotor foi muito utilizado como um avião de bombardeio.

Com o término da guerra, algumas aeronaves deste modelo foram  adquiridas e utilizado pela FAB (Força Aérea Brasileira). Mas é necessário aqui expor alguns pontos para entender como e porquê isso veio a acontecer ...

Voltando no tempo, no ano de 1944, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, ocorreu em Chicago, um encontro de 52 países (onde o Brasil estava incluso) que estabelecia uma série de regras para um reordenamento da aviação civil em todo o mundo. E nesta convenção, foi decidido que cada país participante seria obrigado a manter unidades de salvamento, busca e reconhecimento de longo alcance, dentro de sua área de responsabilidade. Explicando mais detalhadamente, ficou acordado que estes países teriam que dar apoio e proteção às aeronaves que estivessem sobrevoando seus territórios, em situações emergenciais, e que no caso do Brasil, englobaria as aeronaves provenientes ou destinadas à America do Sul, que estivessem sobrevoando o oceano Atlântico.

Porém, a Força Aérea Brasileira dispunha apenas de uma aeronave; o modelo era o Consolidated PBY Catalina, um hidroavião bimotor de uso militar, que teve seu vôo inaugural em 1935 e que fora destinado pela FAB para transporte e vigilância aérea de missões anti-submarinas (detectar, localizar, acompanhar e atacar submarinos e alvos de superfícies)!

O modelo B-17 logo após o término da Segunda Guerra Mundial passou a ter futuro incerto quanto ao seu destino; apesar de robusto e de possuir uma autonomia de longo alcance, sua funcionalidade inicial já não tinha mais propósito, e várias aeronaves deste modelo por não conseguirem se adequar para operações civis, acabaram em desmanches, sendo transformadas em sucatas. Alguns exemplares sobreviveram ao declínio e acabaram se transformando em aeronaves de carga, de busca e salvamento e também para o reconhecimento de aerofotogrametria (ciência aplicada a técnica e a arte de extrair fotografias métricas, formas e dimensões e objetos nele contidos).

Após essa breve explicação dada acima, vamos agora entender o porquê deste modelo B-17 5402, estar localizando e exposto em frente ao Cindacta de Recife (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) .....

Após acordo firmado pelo Brasil na Convenção de Chicago, a USAir Force (United States Air Force) cedeu 06 aeronaves B-17 para a FAB, que chegaram no Galeão, no estado do Rio de Janeiro. Porém era necessário possuir um Centro de Treinamento de Quadrimotores (CTQ) para que o uso efetivo delas fosse a contento. Com isso, foi criado em janeiro de 1951, de forma emergencial e provisória, uma unidade (base) para o treinamento de tripulantes e de pessoal de terra.

Ressalto aqui que foi somente em setembro de 1953 (ou seja, mais de dois anos após o recebimento das aeronaves), que a FAB fez a primeira travessia oceânica - indo de Recife à Dakar (no Senegal) para mostrar a capacidade do país em atender ao disposto quanto a serviço de busca e salvamento da Convenção de Chicago.  Já entre as décadas de 50 e 60 é que fora realizado o primeiro levantamento topográfico da região amazônica (reconhecimento e fotogrametria).

Ao todo, o Brasil chegou a possuir um total de 13 aeronaves deste modelo B17, sendo que destas,  restaram apenas 03 ...

Destas que restaram, uma delas foi doada a USAir Force Museum em 1968, que mesmo considerando que a aeronave estava em excelente condição de vôo, repassou-a para uma organização privada, a Yesterday Air Force, que após alguns anos de uso, aposentou a aeronave deixando-a exposta em Utah, e batizando-a de Short Bier. Esta aeronave que tinha o prefixo B17 -5400 no Brasil, atualmente está restaurada com a cor que era originária do USAir Force na Segunda Guerra Mundial.

A aeronave de prefixo B17 5408 passou por três estados brasileiros. Inicialmente encontrava-se em Recife, sendo enviada ainda na década de 70 para a Base Aérea de Natal. Sem conservação adequada, a aeronave teve seu destino selado no ano de 1980,  quando foi transferida para o Musal (Museu Aeroespacial), localizado no estado do Rio de Janeiro.  A operação de transporte de peças maiores como fuselagem e asas se deu por navio; e por transporte viário, foram encaminhadas as peças da empenagem (que consistem em estabilizadores verticais como o leme e estabilizadores horizontais como o controle de subida e descida do avião), além dos motores. Vale ressaltar aqui que o transporte realizado por navio (talvez de forma inadequada) acabou danificando diversas peças; e outros fatores como a falta de recursos financeiros do Musal, aliado a uma reestruturação que estava sendo praticada no hangar onde se localizava a aeronave B17, fez com que a aeronave fosse precariamente transferida ao pátio aberto, sendo coberta apenas por lonas plásticas, contribuindo para que o desgaste de suas peças fosse acelerado. Atualmente não sei dizer em qual o estado a aeronave se encontra e se ainda existe o interesse em restaurá-la....

E por fim, chegamos ao modelo prefixo B17 5402, que pertenceu ao SAR - Search e Rescue (Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento). Este esquadrão paraquedista é um braço da FAB para operações especiais de busca e resgate. Hoje, em excelente conservação e ainda nas cores originais,  a aeronave se encontra em exposição estática em frente ao Cindacta  do Recife, ao lado do Aeroporto Internacional Gilberto Freyre. Se estiver por Recife, vale muito a pena dar uma esticada até a Base Aérea e tirar várias fotos desta aeronave!




















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