Com o término da guerra, algumas aeronaves deste modelo foram adquiridas e utilizado pela FAB (Força Aérea Brasileira). Mas é necessário aqui expor alguns pontos para entender como e porquê isso veio a acontecer ...
Voltando no tempo, no ano de 1944, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, ocorreu em Chicago, um encontro de 52 países (onde o Brasil estava incluso) que estabelecia uma série de regras para um reordenamento da aviação civil em todo o mundo. E nesta convenção, foi decidido que cada país participante seria obrigado a manter unidades de salvamento, busca e reconhecimento de longo alcance, dentro de sua área de responsabilidade. Explicando mais detalhadamente, ficou acordado que estes países teriam que dar apoio e proteção às aeronaves que estivessem sobrevoando seus territórios, em situações emergenciais, e que no caso do Brasil, englobaria as aeronaves provenientes ou destinadas à America do Sul, que estivessem sobrevoando o oceano Atlântico.
Porém, a Força Aérea Brasileira dispunha apenas de uma aeronave; o modelo era o Consolidated PBY Catalina, um hidroavião bimotor de uso militar, que teve seu vôo inaugural em 1935 e que fora destinado pela FAB para transporte e vigilância aérea de missões anti-submarinas (detectar, localizar, acompanhar e atacar submarinos e alvos de superfícies)!
O modelo B-17 logo após o término da Segunda Guerra Mundial passou a ter futuro incerto quanto ao seu destino; apesar de robusto e de possuir uma autonomia de longo alcance, sua funcionalidade inicial já não tinha mais propósito, e várias aeronaves deste modelo por não conseguirem se adequar para operações civis, acabaram em desmanches, sendo transformadas em sucatas. Alguns exemplares sobreviveram ao declínio e acabaram se transformando em aeronaves de carga, de busca e salvamento e também para o reconhecimento de aerofotogrametria (ciência aplicada a técnica e a arte de extrair fotografias métricas, formas e dimensões e objetos nele contidos).
Após essa breve explicação dada acima, vamos agora entender o porquê deste modelo B-17 5402, estar localizando e exposto em frente ao Cindacta de Recife (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) .....
Após acordo firmado pelo Brasil na Convenção de Chicago, a USAir Force (United States Air Force) cedeu 06 aeronaves B-17 para a FAB, que chegaram no Galeão, no estado do Rio de Janeiro. Porém era necessário possuir um Centro de Treinamento de Quadrimotores (CTQ) para que o uso efetivo delas fosse a contento. Com isso, foi criado em janeiro de 1951, de forma emergencial e provisória, uma unidade (base) para o treinamento de tripulantes e de pessoal de terra.
Ressalto aqui que foi somente em setembro de 1953 (ou seja, mais de dois anos após o recebimento das aeronaves), que a FAB fez a primeira travessia oceânica - indo de Recife à Dakar (no Senegal) para mostrar a capacidade do país em atender ao disposto quanto a serviço de busca e salvamento da Convenção de Chicago. Já entre as décadas de 50 e 60 é que fora realizado o primeiro levantamento topográfico da região amazônica (reconhecimento e fotogrametria).
Ao todo, o Brasil chegou a possuir um total de 13 aeronaves deste modelo B17, sendo que destas, restaram apenas 03 ...
Destas que restaram, uma delas foi doada a USAir Force Museum em 1968, que mesmo considerando que a aeronave estava em excelente condição de vôo, repassou-a para uma organização privada, a Yesterday Air Force, que após alguns anos de uso, aposentou a aeronave deixando-a exposta em Utah, e batizando-a de Short Bier. Esta aeronave que tinha o prefixo B17 -5400 no Brasil, atualmente está restaurada com a cor que era originária do USAir Force na Segunda Guerra Mundial.
A aeronave de prefixo B17 5408 passou por três estados brasileiros. Inicialmente encontrava-se em Recife, sendo enviada ainda na década de 70 para a Base Aérea de Natal. Sem conservação adequada, a aeronave teve seu destino selado no ano de 1980, quando foi transferida para o Musal (Museu Aeroespacial), localizado no estado do Rio de Janeiro. A operação de transporte de peças maiores como fuselagem e asas se deu por navio; e por transporte viário, foram encaminhadas as peças da empenagem (que consistem em estabilizadores verticais como o leme e estabilizadores horizontais como o controle de subida e descida do avião), além dos motores. Vale ressaltar aqui que o transporte realizado por navio (talvez de forma inadequada) acabou danificando diversas peças; e outros fatores como a falta de recursos financeiros do Musal, aliado a uma reestruturação que estava sendo praticada no hangar onde se localizava a aeronave B17, fez com que a aeronave fosse precariamente transferida ao pátio aberto, sendo coberta apenas por lonas plásticas, contribuindo para que o desgaste de suas peças fosse acelerado. Atualmente não sei dizer em qual o estado a aeronave se encontra e se ainda existe o interesse em restaurá-la....
E por fim, chegamos ao modelo prefixo B17 5402, que pertenceu ao SAR - Search e Rescue (Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento). Este esquadrão paraquedista é um braço da FAB para operações especiais de busca e resgate. Hoje, em excelente conservação e ainda nas cores originais, a aeronave se encontra em exposição estática em frente ao Cindacta do Recife, ao lado do Aeroporto Internacional Gilberto Freyre. Se estiver por Recife, vale muito a pena dar uma esticada até a Base Aérea e tirar várias fotos desta aeronave!
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