13/05/2022

As muitas faces de São Paulo - Edifício Matarazzo (3ª parte)

No 2º Mirante, o Edifício Altino Arantes, antigo Banespão e atual Farol Santander é o ponto alto de observação neste canto, pois ele é singular por toda sua estória e simbologia. Ainda neste mirante podemos ver a lateral do Edifício Martinelli assim como um pequeno pedaço do Edifício Sampaio Moreira, primeiro aranha-céu de São Paulo.

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O edifício Altino Arantes possui particularidades bem interessantes; sua construção iniciou-se em 1939 através do interventor federal Adhemar de Barros para que ali fosse instalado a sede do Banco do Estado de São Paulo (Banespa). Este edifício porém só foi inaugurado oito anos mais tarde, em 1947, pelo então governador do estado de São Paulo, o mesmo Adhemar de Barros. Sua construção com mais de 161 metros de altura, distribuídos em 35 andares foi inspirada no edifício Empire State Building de Nova Iorque. Foi durante 20 anos o prédio mais alto da capital paulistana. Tudo ao seu redor é digno de grandeza. Possui 14 elevadores em seu interior e em 1948, ganhou o título de maior construção de concreto armado do mundo pois prédios como o Empire State Building (da qual serviu de modelo) utilizavam em suas construções técnicas de estruturas metálicas ou mistas (metal e concreto). 

Nos anos 2000 o Banco Banespa foi vendido para o grupo Santander que incorporou o prédio em seu patrimônio. Assim como outros prédios no centro de São Paulo, a Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo) em 2014, tombou sua construção. Sua torre, com a bandeira do estado de São Paulo, sempre foi destaque. Antes do Santander assumir, as visitas guiadas podiam subir as escadas e ali ter uma privilegiada vista de toda a cidade. Em dias claros, é possível ver a uma distância de até 40 km, e dali podemos também contemplar outros importantes pontos turísticos como o Edifício Itália (outro conhecido mirante de SP), a Catedral da Sé (ponto zero da cidade), o Mercado Municipal também conhecido como o Mercadão entre outros.

Quanto ao Edifício Martinelli, este merecerá um post mais detalhado futuramente. Apenas para atiçar um pouco a curiosidade, gosto de destacar sua fachada de cor avermelhada; ela possui esse tom porque, acreditem, foi pintado na época com sangue de boi. E para dar mais um gostinho de quero mais, existem estórias de assombração que estão associadas a uma época sombria de ocupação irregular, com relatos de homicídios e outras contravenções penais .

Já em relação ao Edifício Sampaio Moreira, outro marco de São Paulo, este edifício foi tombado em 1992 e desapropriado em 2010. Sua vista não pode ser bloqueada, o que dá a ele, um excelente ponto de observação já que nenhuma construção poderá ser erguida na sua frente. Conhecido como o primeiro aranha-céu de São Paulo durante os anos de 1924 a 1929, perdeu seu posto com a construção do Edifício Martinelli. Seu idealizador, o português José Sampaio Moreira, queria fazer dele um edifício comercial. De localização privilegiada, na importante rua Libero Badaró no número 346, o edifício de 50 metros de altura e 12 andares seguiu a tendência neo-clássico e art noveau em sua estrutura. Atualmente ele é ocupado pela Secretaria de Cultura do estado de São Paulo e do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico).

E por fim, chegamos ao 3º Mirante. Na foto abaixo podemos observar o Theatro Municipal, o Shopping Light, a Praça Ramos de Azevedo. Me perdi no cenário do entardecer e infelizmente não tirei a tempo uma boa imagem de outros pontos turísticos como antigo prédio dos Correios, o Vale do Anhangabaú, o Sampa Sky (no Mirante do Vale) assim como o Edifício Terraço Itália e um pedacinho  do Edifício Copan (aqui com um pouco de esforço no olhar). Mas assim como coloquei sobre o edifício Martinelli, irei fazer postagens mais aprofundadas destes pontos turísticos posteriormente.


As muitas faces de São Paulo - Edifício Matarazzo (2ª parte)

Conforme postagem anterior, achei necessário dividir em diversas partes o assunto sobre o edifício Matarazzo (ou também conhecido Palácio do Anhangabaú).

Neste tópico, vou falar exclusivamente do mirante existente no telhado do edifício. Ao todo, temos três pontos de mirantes já que o jardim suspenso circunda todo o prédio.

No 1º Mirante, vemos com nitidez três pontos muito conhecidos - O edifício Praça da Bandeira, o Palácio Anchieta e por fim, a praça da Bandeira com o terminal de ônibus Bandeira. Vale a pena destacar também um prédio residencial dos anos 50 chamado Viadutos que se encontra logo atrás do Palácio Anchieta.

Discorrendo um pouco mais sobre cada um desses "pontos" que nomeei, começo pelo Edifício Praça da Bandeira. Esse nome não é muito conhecido, mas foi o adotado nos anos 2000 - acredito que para desvincular seu nome ao grande incêndio que ocorreu nele. Para quem ainda não se atentou, estou comentando sobre o Edifício Joelma, um prédio que teve sua construção finalizada em 1972, com um total de 25 andares, sendo os 10 primeiros exclusivos para estacionamento e os demais para aluguel comercial. Em 1974, o Banco Crefisul alugou-o todo e ainda em fase de transferência de departamentos, um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado do 12º andar deu destaque a um dos maiores incêndios da estória de São Paulo. Na década de 70, os móveis utilizados pelas empresas na sua maioria eram de madeiras, com grandes e volumosas cortinas de tecido além dos pisos, muitas vezes acarpetado. Esses são alguns dos motivos para o fogo ter se alastrado tão rapidamente. Essa tragédia ocorreu em 1º de fevereiro trazendo consigo o triste numero de 191 mortos e mais de 300 feridos, sendo que 13 corpos que tentaram escapar pelo elevador, acabaram sem identificação, sendo posteriormente enterrados lado a lado no Cemitério São Pedro (Vila Alpina). Um fato curioso é que são atribuídos a estas "almas" diversos milagres - relatados por pessoas que fizeram pedidos em oração junto aos túmulos e que acabaram sendo atendidas! E por tal motivo, a eles foram atribuído o nome de Mistério das trezes almas

Em 1978, o edifício foi reaberto como o novo Joelma, enaltecendo as mudanças efetuadas no prédio dando amplo destaque para seus padrões atuais de segurança. Vale lembrar que, por ter sido uma catástrofe de enorme comoção, foi reaberto a discussão sobre sistemas de prevenção e combate a incêndios já que, o código de obras adotado pelo município de São Paulo era ainda datado de 1934, época em que os prédios eram de poucos andares e sem tanta estrutura elétrica.

O próximo a ser comentado é o Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal de São Paulo. Sua estrutura é composta de 13 andares possuindo um heliponto no 14º andar. Conta ainda com três andares de subsolo além do térreo, que conta com uma entrada pelo viaduto Jacareí. Dentro de sua suntuosa estrutura, existe um detalhe bem atrativo e icônico - trata-se de sua escadaria em formato helicoidal. Deslumbrante a vista. No 1º andar do prédio, temos o plenário 1º de Maio, que permite acesso a sua galeria pela população. Ao todo sua capacidade é de 210 pessoas. Dentro do edifício, temos outros espaços de auditório e diversas salas de reuniões / eventos. O Salão Nobre, de nome João Brasil Vita, fica no 8º andar e sua capacidade é estimada em torno de 350 pessoas. A inauguração oficial no dia 7 de setembro de 1969. O prefeito da época era Paulo Maluf e o governador Abreu Sodré.


③ E como havia comentado sobre o prédio Viadutos, ressalto a sua importância por aqui porque ele foi construído nos anos 50, época de um bom desenvolvimento urbano de São Paulo, visando atender a classe média e alta paulistana que acreditavam no crescimento do entorno do centro de São Paulo. Possui 27 andares, 12 elevadores e uma cobertura privilegiada de 360º que atualmente pode ser alugada para eventos ou festas. 


E por fim, falarei em conjunto da Praça da Bandeira e o terminal de ônibus de mesmo nome. Diferente do que eu esperava, o mastro com a bandeira brasileira só foi instalado em 1970, mesmo essa praça já existindo antes dos anos 50 (seu nome inclusive era outro - Largo do Riachuelo). Documentos mostram que o atual nome foi indicado por meio de projeto apresentado pelo vereador Décio Grisi em 1949, sendo aprovado o pedido em março do ano seguinte. Era um espaço público, rodeado de jardins, e que ficou durante muitos anos abandonado pelo poder público. Em 2008, mesmo isolada entre avenidas, passarelas e um terminal, a praça que ainda é considerada um dos símbolos de São Paulo recebeu maior atenção e foi totalmente recuperada, mantendo-se até os dias atuais de forma bem conservada. E ocupando boa parte de seu terreno, o Terminal de ônibus Bandeira, inaugurado em 1987, é o ponto final do dos corredores Santo Amaro - Nove de Julho - Centro - que possuem em sua extensão de quase 15 km, 25 estações gerida pela SPTrans.  


10/05/2022

As muitas faces de São Paulo - Edifício Matarazzo (1ª parte)

São Paulo sempre têm estórias interessantes para serem exploradas. E uma dessas estórias que particularmente me interessa envolve a construção do edifício Matarazzo (também chamado de Palácio do Anhangabaú) idealizado pelo Conde Francesco Matarazzo que, infelizmente faleceu antes de sua conclusão. 

Localizado no viaduto do Chá, centro de São Paulo, no entorno do vale do Anhangabaú,  conhecido por muitos paulistanos e demais visitantes como antigo Banespinha - por ter sido a sede do banco Banespa entre o período de 1974 até 2004 - este prédio foi tombado em 1992 por sua relevância histórica, urbanista e social e passou a ser sede da prefeitura no exercício do governo Marta Suplicy, na época, ainda esposa do senador Eduardo Suplicy, parente direto dos Matarazzo. Acredito que a mudança da prefeitura para o edifício teve por finalidade resgatar toda a imponência que a família Matarazzo dispôs ao longo do século XX através de suas diversas empresas. Uma mensagem subliminar, eu penso ...



Voltando no tempo, no ano de 1934  houve um concurso privado para que fosse realizado o projeto idealizado pelo Conde Francesco Matarazzo, para ser sua sede das industrias Matarazzo. O projeto ganhador ficou com o escritório Ramos de Azevedo Severo & Villares. Porém, em 1935, a convite do conde, o arquiteto Marcello Piacentini de passagem pelo Brasil, revisou a planta e acabou adotando algumas mudanças. E o arquiteto italiano foi considerado por alguns, o "dono" do projeto. 

O edifício começou a ser levantado em 1937 e demorou dois anos para sua conclusão. (1939). Possui 14 andares, sendo que dois deles se encontram abaixo do hall de entrada, já que sua construção foi feita no Vale do Anhangabaú e, o 13º andar, por superstição do conde, não existe, sendo apenas uma ligação de escadas para o último andar. Os elevadores do edifício possuem acesso somente até o 12º andar. 

O edifício Matarazzo possui algumas curiosidades como:

- o edifício não utilizou cimento nem ferro. Foi todo construído com mármore Travertino - rocha calcária natural de cor bege claro ou amarronzado, composta por calcita, aragonita e limonita - de origem italiana (cidade de Tivoli).  Esse mesmo granito pode ser observado em grandes construções como o Coliseu, a Basílica de São Pedro, as pirâmides do Egito como também em formatos mais comuns como tampos de mesas, bancadas e em paredes;

- seus pilares de sustentação que se encontram no hall de entrada, remetem nosso olhar em direção ao mosaico na parede ao fundo com o desenho do mapa do Brasil, além de nos diminuir em relação à proporção da altura ali presente. Propositadamente, esse exagero foi feito para que ao entrarmos no prédio, sede da IRFM (Industrias Reunidas Francisco Matarazzo) sentíssemos toda a grandiosidade e poder dos Matarazzo e o quanto erámos pequenos diante deles;   

- ainda em relação aos pilares, logo na entrada se encontram dois com desenhos (relevos) feitos diretamente no mármore pelo escultor italiano Galileo Emendabile, mostrando o trabalhador em diferentes formas;  

- o mosaico do mapa do Brasil foi feito em Viena, na Italia. Ficou pronto em 1939 porém, devido a 2ª guerra mundial, ele só pode ser despachado para o Brasil no ano de 1946. O responsável pelo projeto foi o italiano Giulio Rosso, indicado por Piacentini. Como podemos notar, não existe no desenho os estados de Tocantins, Mato Grosso do Sul e o Amapá, que surgiram posteriormente. Porém, existe no mapa o nome de Brasília, que foi inserido na gestão do prédio pelo Banespa em alusão à capital federal do nosso pais;

- acima das portas de acesso do edifício, existem esculturas que remetem a todas as áreas de atuação do IRFM - tecelagem, metalurgia, agricultura, química e comércio; as industrias foram o maior complexo industrial da América latina no início do século XX tornando-os a família mais rica do Brasil e a 5ª maior no mundo; 


- podemos observar que na parte externa, existem duas sacadas elevadas na entrada do edifício que remetem a uma possível referência ao fascismo, já que o modelo de arquitetura neoclássico foi muito utilizado nos anos 30 remetendo o estilo ao Império Romano e que posteriormente, foi adotado pelo regime fascista; é dito também que Piacentini era o arquiteto preferido de Benito Mussolini, um político conhecido pelo seu autoritarismo de extrema direita;

- e para completar ainda a teoria da conspiração em relação ao regime fascista , acima destas sacadas se encontram três letras M, que para alguns significava Matarazzo, Mussolini e Marcello (o arquiteto)... porém sempre foi dito que os três M referem-se ao Francesco, Emerlino e Francisco Matarazzo! 

- o jardim suspenso (que encontra-se no telhado do edifício) foi iniciado somente em 1970, quando o zelador do edifício Walter Guerra começou o plantio. Exímio conhecedor de plantas, Guerra utilizava somente plantas com raízes horizontais para que desta forma, conseguisse um belo resultado sem afetar nenhuma parte estrutural do prédio. Foram catalogadas mais 400 espécies de plantas. E existe ainda um lago com diversas carpas, sendo uma delas albina, raríssima de se encontrar, e que custa aproximadamente R$ 9.000,00.


- desde 2008, no governo de Gilberto Kassab, (prefeito de São Paulo de março de 2006 até dezembro de 2012) foi realocado para a frente do edifício, a escultura Índia Guanabara, feita em granito em homenagem a baía de Guanabara que ficava instalada no Anhangabaú.  Na escultura, nota-se que o autor João Batista Ferri cuidadosamente inseriu algas entrelaçadas no cabelo da índia e nadadeiras nas pernas;

E como esse edifício é um assunto que demanda algumas outras curiosidades, farei a segunda parte falando do mirante do telhado, onde podemos ver alguns outros símbolos importantes da cidade de São Paulo!