São Paulo sempre têm estórias interessantes para serem exploradas. E uma dessas estórias que particularmente me interessa envolve a construção do edifício Matarazzo (também chamado de Palácio do Anhangabaú) idealizado pelo Conde Francesco Matarazzo que, infelizmente faleceu antes de sua conclusão.
Localizado no viaduto do Chá, centro de São Paulo, no entorno do vale do Anhangabaú, conhecido por muitos paulistanos e demais visitantes como antigo Banespinha - por ter sido a sede do banco Banespa entre o período de 1974 até 2004 - este prédio foi tombado em 1992 por sua relevância histórica, urbanista e social e passou a ser sede da prefeitura no exercício do governo Marta Suplicy, na época, ainda esposa do senador Eduardo Suplicy, parente direto dos Matarazzo. Acredito que a mudança da prefeitura para o edifício teve por finalidade resgatar toda a imponência que a família Matarazzo dispôs ao longo do século XX através de suas diversas empresas. Uma mensagem subliminar, eu penso ...
Voltando no tempo, no ano de 1934 houve um concurso privado para que fosse realizado o projeto idealizado pelo Conde Francesco Matarazzo, para ser sua sede das industrias Matarazzo. O projeto ganhador ficou com o escritório Ramos de Azevedo Severo & Villares. Porém, em 1935, a convite do conde, o arquiteto Marcello Piacentini de passagem pelo Brasil, revisou a planta e acabou adotando algumas mudanças. E o arquiteto italiano foi considerado por alguns, o "dono" do projeto.
O edifício começou a ser levantado em 1937 e demorou dois anos para sua conclusão. (1939). Possui 14 andares, sendo que dois deles se encontram abaixo do hall de entrada, já que sua construção foi feita no Vale do Anhangabaú e, o 13º andar, por superstição do conde, não existe, sendo apenas uma ligação de escadas para o último andar. Os elevadores do edifício possuem acesso somente até o 12º andar.
O edifício Matarazzo possui algumas curiosidades como:
- o edifício não utilizou cimento nem ferro. Foi todo construído com mármore Travertino - rocha calcária natural de cor bege claro ou amarronzado, composta por calcita, aragonita e limonita - de origem italiana (cidade de Tivoli). Esse mesmo granito pode ser observado em grandes construções como o Coliseu, a Basílica de São Pedro, as pirâmides do Egito como também em formatos mais comuns como tampos de mesas, bancadas e em paredes;
- seus pilares de sustentação que se encontram no hall de entrada, remetem nosso olhar em direção ao mosaico na parede ao fundo com o desenho do mapa do Brasil, além de nos diminuir em relação à proporção da altura ali presente. Propositadamente, esse exagero foi feito para que ao entrarmos no prédio, sede da IRFM (Industrias Reunidas Francisco Matarazzo) sentíssemos toda a grandiosidade e poder dos Matarazzo e o quanto erámos pequenos diante deles;
- ainda em relação aos pilares, logo na entrada se encontram dois com desenhos (relevos) feitos diretamente no mármore pelo escultor italiano Galileo Emendabile, mostrando o trabalhador em diferentes formas;
- o mosaico do mapa do Brasil foi feito em Viena, na Italia. Ficou pronto em 1939 porém, devido a 2ª guerra mundial, ele só pode ser despachado para o Brasil no ano de 1946. O responsável pelo projeto foi o italiano Giulio Rosso, indicado por Piacentini. Como podemos notar, não existe no desenho os estados de Tocantins, Mato Grosso do Sul e o Amapá, que surgiram posteriormente. Porém, existe no mapa o nome de Brasília, que foi inserido na gestão do prédio pelo Banespa em alusão à capital federal do nosso pais;
- acima das portas de acesso do edifício, existem esculturas que remetem a todas as áreas de atuação do IRFM - tecelagem, metalurgia, agricultura, química e comércio; as industrias foram o maior complexo industrial da América latina no início do século XX tornando-os a família mais rica do Brasil e a 5ª maior no mundo;
- podemos observar que na parte externa, existem duas sacadas elevadas na entrada do edifício que remetem a uma possível referência ao fascismo, já que o modelo de arquitetura neoclássico foi muito utilizado nos anos 30 remetendo o estilo ao Império Romano e que posteriormente, foi adotado pelo regime fascista; é dito também que Piacentini era o arquiteto preferido de Benito Mussolini, um político conhecido pelo seu autoritarismo de extrema direita;
- e para completar ainda a teoria da conspiração em relação ao regime fascista , acima destas sacadas se encontram três letras M, que para alguns significava Matarazzo, Mussolini e Marcello (o arquiteto)... porém sempre foi dito que os três M referem-se ao Francesco, Emerlino e Francisco Matarazzo!
- o jardim suspenso (que encontra-se no telhado do edifício) foi iniciado somente em 1970, quando o zelador do edifício Walter Guerra começou o plantio. Exímio conhecedor de plantas, Guerra utilizava somente plantas com raízes horizontais para que desta forma, conseguisse um belo resultado sem afetar nenhuma parte estrutural do prédio. Foram catalogadas mais 400 espécies de plantas. E existe ainda um lago com diversas carpas, sendo uma delas albina, raríssima de se encontrar, e que custa aproximadamente R$ 9.000,00.
- desde 2008, no governo de Gilberto Kassab, (prefeito de São Paulo de março de 2006 até dezembro de 2012) foi realocado para a frente do edifício, a escultura Índia Guanabara, feita em granito em homenagem a baía de Guanabara que ficava instalada no Anhangabaú. Na escultura, nota-se que o autor João Batista Ferri cuidadosamente inseriu algas entrelaçadas no cabelo da índia e nadadeiras nas pernas;
E como esse edifício é um assunto que demanda algumas outras curiosidades, farei a segunda parte falando do mirante do telhado, onde podemos ver alguns outros símbolos importantes da cidade de São Paulo!