"O Pensador" - Instituto Ricardo Brennand (Recife/PE)

Quem nunca ouviu falar da escultura "O Pensador" feito por Rodin? Sua primeira versão foi realizada em torno de 1880 e posteriormente outras cópias, algumas em escala maior, foram produzidas. Alguns especialistas afirmam que a primeira cópia desta escultura de Rodin foi finalizada em 1902 e apresentada ao público somente em 1904. 

Contabilizam-se que existem 20 cópias do "O Pensador" espalhadas pelo mundo - e uma destas cópias de proporções ampliadas da obra original se encontra no Instituto Ricardo Brennand.

"O Pensador" é apenas uma das diversas esculturas que se encontram expostas neste extenso espaço de arte - em seu interior podemos ainda admirar peças de armaria, mobiliário, artes decorativas, tapeçarias - todos provenientes da Europa, África, Asia e América produzidos entre os séculos XV e XXI. E conta ainda com espaço para coleções de pintura brasileira e estrangeira.

O Instituto está localizado no bairro da Várzea, em Recife, bem próximo ao Hospital das Clínicas de Pernambuco. Seu horário de visitação é de terça a domingo à partir das 13h até às 17h. Minha opinião: Vale muito a pena! E com certeza, um único dia não é suficiente para conhecer por completo este museu. 

Palácio Campo das Princesas e suas particularidades

Do lado oposto ao memorial Tortura Nunca Mais e da escultura em homenagem ao Padre Henrique encontra-se o Palácio do Campo das Princesas. Próximo às margens do Rio Capibaribe, localizado na ilha de Antonio Vaz, bem próximo ao Palácio da Justiça e do Teatro de Santa Isabel, ele foi construído em meados do século XIX a pedido do então governador da província Francisco do Rego Barros (futuro Conde da Boa Vista). 

Em 1859 o Palácio Provincial sofreria algumas reformas para receber o então imperador do Brasil, Dom Pedro II juntamente com a imperatriz Teresa Cristina de Bourbon e suas filhas. Por ser um local tranquilo, a imperatriz permitia que suas filhas brincassem nos jardins, motivo pelo qual surgiu o nome Campo das Princesas e que posteriormente, seria incorporado pelo palácio.

Ainda no período republicano, o palácio passou a servir como sede temporária do Governo da República (em 1967) no período do mandato do então presidente Arthur da Costa e Silva e do governador Nilo de Sousa Coelho.

Foto cedida por Hermano Alexandre

Em 2014, o palácio veio a ter grande destaque na mídia devido ao infortúnio ocorrido junto ao presidenciável Eduardo Campos. Em campanha eleitoral para a presidência da república pelo PSB, Eduardo Henrique Accioly Campos (seu nome de batismo) tragicamente morre em um acidente aéreo em Santos, litoral paulista. Eduardo que havia sido eleito governador de Pernambuco por duas vezes era também presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e neto do ex-governador Miguel Arraes. Toda a admiração que exercia sobre o povo pernambucano ficou ainda mais estampada principalmente nos rostos dos anônimos que pareciam não acreditar em seu falecimento precoce. Coincidência macabra, Eduardo faleceu em 13 de agosto de 2014, há exatos nove anos posterior à morte de seu avô, ocorrido em 13 de agosto de 2005. Uma multidão ficou em vigília em frente ao palácio, mesmo debaixo de chuva, no local escolhido pelos familiares e pelo atual governador de Pernambuco, João Lyra Neto, aguardando às homenagens que seriam prestadas junto ao seu corpo presente. 

Torres Gêmeas - Recife antigo

Recife é uma cidade com muitas particularidades. E uma delas se destaca em vários pontos da cidade quando observado de longe: são as conhecidas Torres Gêmeas.

Os edifícios Pier Mauricio de Nassau e Pier Duarte Coelho estão localizados no Cais de Santa Rita, no centro de Recife, e já passaram por diversas situações inusitadas desde o momento de sua concepção até a entrega do projeto. 

Torres Gêmeas visto do Forte das 5 Pontas

Pesquisando sobre o local, descobri que antigamente, quem ocupava aquele espaço era a Mesbla Veículos, antiga proprietária do terreno. A empresa encerrou suas operações com diversas dívidas trabalhistas e acabou perdendo o terreno em disputa jurídica de forma questionável. Mas por que questionável?  Dizem que seu terreno foi a leilão sem que a mesma tenha sido notificada....

Em relação ao leilão, inicialmente duas empresas haviam interesse em aquirir o local. Eram as construtoras Moura Dubeux e a Queiroz Galvão. O mesmo ocorreria no dia 24 de março de 2003 às 12h30. Porém, sem notificação oficial, o horário foi modificado para as 9h00 da manhã tendo aparecido apenas a Moura Dubex como interessada no leilão...

E uma dúvida levantado junto ao leiloeiro João Dias Martins - na época, ele estava com sua nomeação revogada. Como então ele poderia ser o leiloeiro oficial?

Mesmo com essas particularidades, o terreno foi adquirido pela Moura Dubeux e o projeto seguiu em frente. O Cais de Santa Rita, antiga área portuária e com linhas férreas estava pronta para receber um empreendimento que prometia ser destaque não só pela sua originalidade mas também em estética e inovação. E ainda contava com mais um fator importantíssimo para sua execução: Recife estava entre as cidades que possui as menores velocidades de vento no mundo! Construir esses aranhas-céu não exigiam testes em túnel de vento, o que economizaria tempo e dinheiro. Mas vale ressaltar que inovação e segurança foram fatores presentes na implantação do projeto e na execução da obra. Testes realizados para a viabilidade de sua construção com estacas metálicas na fundação do edifício foram aprovadas e se mostraram plenamente seguras e de qualidade.

Com a viabilidade técnica aprovada, era só seguir em frente. Resultado final: duas torres, cada uma com 42 andares e apartamentos de 247m² num total de 126 metros de altura. Com seu surgimento, veio também a reurbanização da parte antiga da cidade que passou a ser também referência social, aumentando a valorização do seu entorno.

Descobrindo(?) Gravatá...

Gravatá é uma cidade do interior de Pernambuco distante aproximadamente 80 km da capital Recife e parte de seu "charme" está no clima de serra, onde a temperatura pode chegar a ficar em torno de 15ºC nos dias mais frios. Realmente, uma tentação para a região nordeste, sempre muito quente durante o ano todo.

Várias pessoas recomendaram conhecer a cidade. Comentários sobre a ampla rede de hotéis, resorts, spas e pousadas em torno dela e também quanto aos restaurantes que servem fondues e outros com opções regionais (cozinha nordestina) me deixaram curioso. E para quem curte, a cidade possui algumas opções de programação voltada ao ecoturismo e atividades radicais como escalada e rapel.

Acordei no sábado e perguntei a minha esposa se ela queria ir conhecer Gravatá. Ela topou a idéia. Saímos com uma pequena mochila no porta-malas, pois se houvesse empatia com o local, tentaríamos ficar em alguma pousada ou hotel. A estrada (BR 232) está duplicada mas está com excessos de "buracos" em vários pontos dela. Tanto na ida quando na volta vi carros no acostamento com rodas amassadas ou pneus rasgados...

Gravatá é rodeada pelas reservas de mata atlântica e da caatinga, sendo uma paisagem muito agradável de ser contemplada ainda na estrada. O primeiro local que parei foi no posto de Informação Turística na entrada da cidade. O atendimento prestado pela funcionária foi atencioso mas faltou o mapa da cidade pois ela havia entregue o último a um casal que havia chegado antes. Mesmo assim ela se esforçou em indicar alguns pontos a serem visitados. 

Restaurante Charque da Dona Neuza

E indicou, por duas vezes, um restaurante para almoçarmos. Acreditei ser então um local bacana. Este foi um enorme erro. Parei neste restaurante chamado Charque da Dona Neusa, um local bonito mas muito cheio, sem espaço climatizado e com atendimento deixando à desejar. Preço nada convidativo para o tipo de lugar e o espanto maior aconteceu quando solicitei ao garçom que me trouxesse pãozinho para acompanhar o prato - vieram duas mini-baguetes que pareciam terem sido re-esquentadas naquele instante; e o mais absurdo foi o valor cobrado por elas - R$ 12,00. Em minha opinião, um roubo descarado! Não gosto de "rasgar dinheiro" e nem ser feito de bobo. Infelizmente foi o que aconteceu comigo neste lugar!

Depois do desastre do almoço, resolvemos dar uma volta pela cidade. Como estávamos ao lado do pólo moveleiro, caminhamos um pouco pelo local e vimos algumas coisas interessantes. Os materiais mais presentes são a madeira maciça e o cipó. Algumas peças em bronze também chamam a atenção.

Em relação à cidade, confesso que esperava um pouco mais. Fui conhecer o Mercado Cultural e a Estação do Artesão. De lá segui as placas e bati no Cruzeiro. Uma igrejinha, uma estação de rádio, dois ou três restaurantes por ali e o cristo de braços abertos. Nada muito diferente do que já vi em outras cidades do interior do nordeste.

Igreja no Cruzeiro

Não passava das 16h quando resolvemos voltar para Recife. Estávamos parcialmente decepcionados e havíamos desistido de pernoitar por lá. Mas, admito que ao fazer um caminho diferente para pegar de volta a BR, acabamos passando por alguns ranchos, haras e condomínios fechados de alto padrão e de extrema beleza. Por aqui, pelo menos durante à tarde, existe uma sensação de aparente tranquilidade e segurança.

Cristo de braços abertos no Cruzeiro

Ainda assim, tive a impressão de que estive visitando o lado errado da cidade; Parece realmente que não descobri a Gravatá de que é tao comentada por aqui em Pernambuco! Lembrando apenas que, por ser uma cidade tão badalada (e excessivamente cara), esperava era encontrar uma mini Campos do Jordão no nordeste... 

Olinda - Trattoria Don Francesco

Olinda é uma cidade ímpar... andar por suas ruas estreitas, observando a arquitetura das casas e descobrindo que ali pode ser um belíssimo restaurante realmente faz o fim-de-semana ser muito mais prazeroso.

Depois de uma breve visita ao Alto da Sé, vendo aquela vista maravilhosa da cidade de Recife no horizonte, decidi buscar um local para almoçar. Já passava das 14h00 e lembrei-me de uma rua que tinha uma nada discreta casinha indicando o restaurante Trattoria Don Francesco. Localizado na rua Prudente de Morais, este restaurante está indicado em uma revista de grande circulação como o melhor na categoria Restaurante Italiano em Recife-Olinda. Então a vontade de experimentá-lo era grande.

Confesso que no final de semana anterior já havia tentado almoçar por ali, mas aos sábados, eles abrem somente para o jantar, a partir das 18h30... Lembrei-me de que era domingo e de que o horário de almoço iria das 12h as 16h. De imediato, corri para lá. Observei que apesar de ter a placa com a indicação "aberto", era necessário tocar a campainha e aguardar alguns segundos até que algum funcionário gentilmente nos abrisse a porta como se estivesse nos recebendo para uma visita dentro de sua casa. Gostei dessa recepção.

A massa é artesanal assim como todos os molhos preparados. A carta de vinhos é exclusivamente italiana e o ambiente muito acolhedor. Existe uma varanda com várias mesinhas ao ar livre, mas esse espaço é pequeno e bem disputado. Preferi ficar na parte interna com o ar-condicionado. Me senti acolhido e bem confortável.

Sempre que vou pela primeira vez em uma cantina, peço para experimentar o filé parmegiana. Tenho verdadeira paixão por esse prato, e já experimentei em diversos restaurantes pelo Brasil. É um prato relativamente simples de se fazer mas que possui muitas diferenças, dependendo inclusive da região. Minha esposa neste domingo preferiu escolher uma lasagna ao molho bolonhesa já que neste caso, a atendente disse para nós que todos os pratos eram bem servidos, porém individuais.

O filé parmegiana do Trattoria Don Francesco é muito saboroso e percebe-se claramente que os ingredientes utilizados são da hortinha plantada ali mesmo no restaurante como eles mesmo afirmam. O sabor e o visual dos pratos são muito bons, mas não o suficiente para satisfazer a fome se ela for grande. Se for o caso, peça uma salada de entrada acompanhado do pão artesanal ou então bruschettas. Como sou de família italiana e sempre fui a muitos restaurantes italianos, sempre acreditei que a fartura é ingrediente essencial, diferente de uma cozinha francesa...

Classifico como ponto positivo a indicação da revista mas confesso que para o meu paladar, ninguém ainda conseguiu superar o Cantina Di Napoli, em Fortaleza! A qualidade e a quantidade ofertada por lá, em especial no parmegiana, é imbatível... 

Olinda - Observatório Alto da Sé

O observatório Alto da Sé serviu durante muitas décadas como local de observação e estudos de astronomia. Construído no século XIX, ele foi idealizado pelo então governador da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho. 

Em 26 de fevereiro de 1860 o astrônomo francês, Emmanuel Liais, que estava a serviço do Observatório Imperial de Paris, descobriu no Alto da Sé o Cometa Olinda, primeiro e único cometa descoberto na América do Sul em território brasileiro. 

Feito em alvenaria e em formato cilíndrico, possuindo uma área aproximada de 6,00 m². o observatório na década de 70 (século XX), foi desativado passando a ser 'administrado" pelo Espaço Ciência. Apesar dele ser utilizado para visitações turísticas e observações didáticas junto aos visitantes, no dia em que estive por lá, ele encontrava-se fechado.

Descobrindo Recife - Memorial Tortura Nunca Mais

Memorial Tortura Nunca Mais - Inaugurado em 27 de agosto de 1993, na praça Padre Henrique, o destaque principal desse monumento é que ele foi o primeiro a ser construído no país em homenagem aos mortos e desaparecidos durante a ditadura militar. Sua forma ressalta a figura de um homem nu sendo torturado sobre a posição de um pau-de-arara. 

Para entender o porquê desta escultura ter sido concebida e exposta naquela praça, temos que voltar um pouco na história. O Movimento Tortura Nunca Mais surgiu como  uma atividade clandestina por volta dos anos 70 - (aproximadamente em 1976) e sua atividade principal estava diretamente ligada aos direitos humanos e na busca de informações sobre desaparecidos e/ou torturados políticos durante a ditadura militar de 64. 

Por volta de 1987, a entidade registrou-se como uma OSC - Organização de Sociedade Civil - direito privado e fins públicos; desta forma ela saía da clandestinidade e passava a ser reconhecida como uma ONG (Organização Não-Governamental - ou Terceiro Setor) que teria como base a discussão e solução de questões voltadas ao interesse público, fossem elas no âmbito municipal, estadual ou federal. Vale ressaltar que por ser uma instituição sem fins lucrativos, suas receitas só podem vir através de contribuições de seus filiados e doações advindas por parte de verbas públicas.

Em 1988, a prefeitura de Recife abriu uma licitação para a revitalização da atual praça Padre Henrique e para a concepção do monumento. Ficou decidido que este não seria apenas mais um ponto turístico na cidade, e que a escultura deveria transmitir aos visitantes a repulsa contra à tortura e o desrespeito aplicados junto à dignidade da pessoa humana nos anos de ditadura militar.

E para complementar essa obra, foi concebido também a criação de diversas placas que remetem a lembrança de túmulos dedicado às vitimas pernambucanas da época; São poucas representadas e preenchidas com informações de desaparecidos (em torno de umas sete apenas em mais de 40 possíveis), mas que deixam vivo um passado que não conheci mas que tenho certeza de que não quero vivenciar nunca!

Descobrindo Recife - Monumento em homenagem ao Padre Antonio Henrique

Bem próximo do Palácio do Campo das Princesas, no Recife Antigo, fica o monumento em homenagem ao padre Antonio Henrique... 

Padre Henrique, que fora indicado pelo arcebispo de Recife e Olinda Dom Helder Câmara para coordenar a Pastoral da Juventude, tinha como vocação uma enorme capacidade de liderança que buscava encontrar na sociedade, pessoas que o acompanhassem em sua pregação de paz, harmonia e principalmente,  na conscientização social de cada indivíduo, visando assim uma sociedade mais justa e melhor estruturada.

Morto em 27 de maio de 1969, época em que o Brasil vivia o regime militar, o padre cujo nome de batismo era Antonio Henrique Pereira da Silva Neto, vinha sofrendo constantemente ameaças advindas de um grupo denominado Comando de Caça aos Comunistas, conhecido popularmente como CCC. 

Sua morte precoce (29 anos) ocorreu alguns meses após a implantação do AI-5 e chocou a opinião pública da época. Seu corpo foi encontrado próximo à cidade universitária, cheio de hematomas, com sinais de facadas, e com tiros no rosto e completamente desfigurado.

Ainda relatos da época mostram que a imprensa foi proibida inclusive de publicar o convite para o enterro e para a missa de sétimo do padre. 

O arcebispo Dom Hélder não se intimidou... continuava o trabalho iniciado na pastoral e afirmava aos jovens da época que a morte do Padre Antonio Henrique não deixaria a população orfã. Relatou em nota junto ao Colegiado da Arquidiocese que as ameaças continuavam sendo encaminhadas e que atentados como ao estudante Cândido Pinto, então dirigente da união dos estudantes de Pernambuco - que na ocasião o vitimou deixando-o paralítico - não iriam calar a população.

O enterro do Padre pode ser considerado a primeira manifestação pernambucana em massa contra a ditadura militar. Reuniu em torno de vinte mil pessoas, que cantavam o seguinte refrão: "Prova de amor maior não há do que doar a vida pelo Irmão".

Sem perceber, a ditadura militar fez dele um mártir...